O caso Xlibre expõe o que há de pior na comunidade de código aberto. Aqueles que pensavam que, com a incorporação de empresas ao desenvolvimento, teríamos o melhor dos dois mundos estavam completamente enganados. Temos o pior dos dois mundos: ganância, egos, ambições monopolistas, incompetência e interesse próprio.
Em minha defesa, posso dizer que isso não se deve a novatos como a Microsoft, mas a indivíduos e empresas que trabalham com código aberto há várias décadas.
Um pouco de contexto
Desde a década de 80, o Unix e seus sistemas operacionais derivados e/ou inspirados utilizam o X11 como gerenciador de janelas para fornecer uma interface gráfica. No caso do Linux, em particular, trata-se (ainda) de uma variante chamada Xorg. Dezoito anos atrás, a Red Hat decidiu que, em vez de aprimorar o X.org, seria melhor escrever um projeto do zero. O problema é que, embora o Wayland seja um protocolo mais moderno e corrija muitas das falhas do Xorg, ele nunca atingiu todos os seus recursos. Entretanto, como a IBM, por meio da Red Hat, controla direta ou indiretamente vários projetos de código aberto, diversas distribuições e projetos decidiram descontinuar o suporte.
O caso Xlibre traz à tona o que há de pior na comunidade
E é aqui que devo avisar aos leitores que estou andando na corda bamba. Estou tentando descobrir a verdade entre os blogueiros adeptos da tecnologia e os teóricos da conspiração.
Em 5 de junho de 2025, Enrico Weigelt, descrito por alguns como o desenvolvedor mais ativo do Xorg, decidiu criar um fork chamado Xlibre. Este projeto promete continuar o Xorg de onde parou. (segundo alguns, paralisado). A primeira versão do Xlibre promete incluir mais de 3000 melhorias e correções.
Mas o pior de tudo é que Weigelt declarou que este seria um projeto livre de DEI.
O que é DEI?
Vamos fazer um pouco de psicologia de cunhado. Em algum momento, o movimento de software livre e de código aberto deixou de ser um movimento apenas de técnicos e começou a atrair ativistas. que o veem como uma forma de lutar por seus objetivos sociais. O código ficou em segundo plano em relação ao combate ao capital, à desigualdade social, ao racismo e ao avanço da agenda de gênero.
DEI significa Diversidade, Equidade e Inclusão. Em teoria, busca criar ambientes de trabalho que valorizem as diferenças individuais e promovam a igualdade de oportunidades para todos. Críticos dizem que constitui racismo reverso, favorecendo raça, gênero ou orientação sexual em detrimento da competência técnica.
Um pouco de teorias da conspiração.
Neste ponto, temos de um lado empresas tentando impor suas tecnologias e, do outro, pessoas tentando impor sua agenda. A Red Hat e a Freedesktop.org (a entidade responsável pelo Xorg) responderam bloqueando o acesso de Weigelt aos repositórios e removendo suas contribuições.
Do lado ideológico, foi lembrado que Weigelt teve uma polêmica bem conhecida com Linus Torvalds por usar a lista de discussão de desenvolvimento do kernel Linux para se opor à vacinação contra a COVID.
Deixando de lado a ideologia, As únicas críticas ao Xlibre são a falta de desenvolvedores e as dúvidas de que ele possa continuar ao longo do tempo sem o suporte das principais distribuições e desktops. Todos concordam que o Wayland ainda está longe de estar pronto, especialmente no aspecto de acessibilidade, e em vez de focar nisso, as respostas dessas distribuições e projetos consistem em mais bloqueios ou questionamentos das motivações ideológicas daqueles que promovem o Xlibre.
Embora as contribuições de Weigelt ao Xorg não tenham sido isentas de problemas: erros no gerenciamento de licenças, quebra de funcionalidades do RandR (resolução e rotação) ou adição de alterações que afetavam a compatibilidade com drivers de placas de vídeo NVIDIA.
Por enquanto, distribuições Linux como Devuan, Arch Linux e OpenMnadriva têm planos de incluir o Xlibre em seus repositórios.
Mas quando a ideologia e a ganância entram, os princípios e a tecnologia saem.